terça-feira, 10 de junho de 2014

Espólio Sangrento: II

A viagem funesta!
O lar da escuridão!

A carruagem percorria o seu devido caminho conforme era necessária, às vezes o cavaleiro fazia os comandos certos para os cavalos aumentarem sua velocidade, contudo quando eles se deparavam com trechos estreitos e perigosos, eram obrigados a diminuir a rapidez. Aquele era um momento daqueles. A carruagem agora estava caminhando lentamente e varias vezes, parecia que as rodas passavam por enormes pedras já que os dois garotos dentro da carruagem sentiam a mesma dando pequenos pulos.

- Vlad, me diga meu irmão, por que papai fez isso? – Perguntou Radu, o irmão mais novo enquanto levava as mãos até as do mais velho. No entanto Vlad não teve tempo de responder, já que o Sultão presente com eles no veiculo respondeu mais rápido.

- Vocês são minhas moedas de troca garotos. Eu dei toda a Valáquia ao seu pai. Como tributo de confiança, eu exigi que ele me entregasse vocês dois. Assim, tenho certeza que ele não vai me trair com os porcos da Hungria.  – Vociferou o gordo Sultão, mantendo os olhos frios fixos aos irmãos. A barba do sultão descia pelo queixo tomando conta de toda parte da frente de seu pescoço. Trajava roupas bonitas, com certeza de material Real, mas os pequenos não podiam falar o mesmo sobre o hálito do Sultão.

- Isso... Co...Como isso é verdade? – Continuou Radu, voltando a trazer as lágrimas diante seu rosto.

- Esse é o preço da vida meu irmão. Mesmo tão novo você tem que aprender isso como eu estou aprendendo agora. Somos nós as moedas de ouro mais valiosas que tiverem que ser dadas. – Se adiantou Vlad III.

- Exato pequeno Vlad. Enquanto vocês estiverem comigo, sua família terá poder! – Continuou o Sultão, olhando admirado para a frieza e seriedade do pequeno Vlad III.

- Isso não é justo! Não é justo!

- Poupe-me de suas lamúrias criança inocente! Ainda temos uma longa viagem! – Gritou o Sultão, com certeza já tinha perdido a paciência com o descendente mais novo do seu velho inimigo agora aliado, Vlad Tepes II.

A viagem seguia conforme o imaginado. Agora, eles não podiam abusar da sorte e fazer os cavalos correrem mais rápido que crianças. Vlad olhou pela a janela e viu o enorme abismo diante a ele. Uma queda daquelas levaria todos á morte! Caso alguém conseguisse sobreviver à queda, iria morrer de agonia, enquanto sofreria com os membros quebrados e os urubus mordiscando seus ferimentos.

- CANNIBAIS! – Repentinamente a carruagem parou. Tão bruscamente que os dois garotos caíram de mau jeito e o Sultão deve de se prender diante entre as janelas para não cair.

- O que você disse homem? – Perguntou um Sultão desesperado colocando a cabeça entre a janela. Naquele rápido momento viu seu maior erro. Todos seus homens estavam atrás da carruagem Real, deixando apenas cinco soldados na parte dianteira.

- Um grupo de Cannibais das montanhas senhor! – Respondeu o cavaleiro sem esconder o medo em sua voz. – Eles estão a vinte metros, se aproximando a pé. São dez senhores!

- Ora! Vocês são cinco, matem esses demônios! – Praguejou Mehmed II.
O Cavaleiro abriu a boca, mas não respondeu. Observou os dez homens másculos e sujos correndo em sua direção. A pele deles tinha um tom cinzento por causa da convivência com a montanha e levava em suas mãos madeiras com pedras amarradas nas pontas. Por um instante o homem fraquejou, vislumbrou o ódio nos olhos daquelas criaturas e sentiu a necessidade que eles tinham em comer, estavam famintos e não deixariam o almoço fugir tão facilmente.

- Mas que inferno! Estamos presos nessa droga. São dois para um, eles são soldados treinados, não irão morrer para selvagens! – Gritou o Sultão sem confiar no que dizia.

Repentinamente o barulho começou. Logo Vlad entendeu o que estava acontecendo. Os soldados do Sultão que serviram como escolta na hora da troca agora estava atrás deles. Graças ás montanhas que tinham caminhos curtos e com quedas mortais, era impossível de se atravessar sem que a carruagem saísse dali. Agora todo o exército de duzentos homens era inútil.

Logo ás montanhas ecoava cânticos de dor. Homens gritavam e blasfemavam e o Sultão começava a ficar desesperado.

- Infelizmente não posso. Como eu poderia conseguir passar por essa janela e acabar com esses diabos! – Logo que ouviu isso, Vlad entendeu o que tinha que fazer! Em um movimento rápido se pós diante o Sultão e levou os dedos até a bainha da espada, puxando-a pelo punhal.

- Você não consegue, mas eu sim! – Disse Vlad III fitando com seus olhos negros o Sultão que naquele momento, nada disse. Vlad colocou a espada em sua cintura, presa na bainha e colocou a cabeça para fora, olhando para baixo e observando o enorme buraco que seria a casa de sua alma caso ele caísse. Percebeu que nas laterais da carruagem, havia pequenas elevações que poderia lhe servir de apoio. Colocou primeira a parte do tronco para fora, depois apoiando os pés sobre as rodas. Aquilo fez a carruagem ceder um pouco para o penhasco e Vlad ordenou. – Vão para o outro lado! AGORA, EQUELIBREM O PESO! – E obedecendo sentindo uma pequena agulha de raiva o Sultão fez como Vlad havia mandado.
Com muita dificuldade e cautela Vlad III estava diante a carnificina. Dois dos homens Turcos estavam mortos, com as gargantas cortadas e os membros esmagados. Vlad lembrou-se de tudo que seu tutor havia lhe ensinado e em segundos, sabia que agora era hora de colocar isso em pratica, mesmo que fosse a primeira vez. Um terceiro soldado estava prestes a morrer, ajoelhado e desarmado diante um Cannibal que estava com a mão levantada e descendo contra o crânio do soldado com um pedaço de pedra de quase cinco quilos afiada. Vlad se adiantou e por sorte o inimigo estava de costas á ele. Tirou a espada da bainha e a lâmina cortou a parte de trás do joelho do adversário que por seu azar, acertou com a pedra a própria barriga e sem pena, Vlad o chutou com força e observou seu oponente cair do penhasco.

Agora os outros dois soldados Turcos lutavam arduamente contra cinco dos Cannibais das montanhas. Vlad novamente correu, segurando firmemente o punhal da espada e logo que se aproximou, manipulou um golpe de baixo para cima nas costas do enorme Cannibail que estava mais próximo. Á lâmina cortou as costas do homem e o sangue escorreu pelo chão. O mesmo se virou e talvez adivinhando a localização de Vlad desferisse um golpe violento com uma arma de pedra. Vlad se defendeu, mas caiu por causa da força de seu inimigo que parecia ser mil vezes mais forte que ele. Caído, olhando seu inimigo ficar diante a si acreditou que iria morrer, mas repentinamente uma lâmina igual a sua atravessa a cabeça do Cannibai, era o soldado Turco que havia salvado.

Vlad não agradeceu, levantou-se e voltou a vislumbrar seus inimigos que agora, eram dois. Enquanto voltava a correr contra seus inimigos um deles morreu e sabendo da derrota certa, o único sobrevivente fugiu. Contudo Vlad estava empolgado de mais para simplesmente o deixar fugir e assim, correu sozinho atrás do seu inimigo. Naquela hora o semblante do garoto estava banhado a sangue e tudo que ele queria era conseguir alcançar aquele maldito e matá-lo. Na verdade não matá-lo, mas fazê-lo sofrer, torturá-lo.

- Não fuja! Seu lixo. Venha! – Gritou o garoto e seguindo seu pedido o Cannibal parou. Vendo que era apenas uma criança o homem deixou um sorriso aparecer em seus lábios, mostrando os dentes podres, quebrados e afiados na sua boca. Depois fechou e moveu a língua dentro dela e cuspiu algo. Vlad olhou para o chão e viu um pequeno pedaço de carne humana. Agora, não se sentiu intimado, mas o ódio dominou ainda mais seu coração.

O Cannibal correu em direção do garoto, este tinha quase dois metros de altura e desferia socos e chutes enquanto se esquivava das investidas da lâmina que Vlad lançava. Apesar da grande diferencia de idade, a luta parecia igualada, mas com um movimento (Talvez de sorte) Vlad acertou a cintura do Cannibal, cortando um pouco sua perna e deixando cair no chão uma espécie de bolsa de pele humana. Da bolsa uma pedra escura em formato de lágrima rolou no chão e o Cannibal descuidado, esqueceu-se de seu inimigo e virou-se para pegar o item misterioso. Vlad aproveitou o descuido e com força passou a lâmina pelo pescoço da criatura, fazendo a cabeça rolar para o penhasco e o corpo cair sem vida contra o chão. Vlad se aproximou e pegou a pedra caída no solo cinzento.

-Olhem! Vlad III Está vivo! – Gritou o cavaleiro que seguia adiante com a carruagem, Vlad colocou a pedra em seu bolso e esperou sua prisão novamente enquanto avistava a imensidão daquelas montanhas e os céus cobertos por nuvens escuras.


Horas mais tarde já tinham passado pelas montanhas, sabia também que já estava dentro dos territórios Otomanos e quando a carruagem parou, sabia que tinha chegado a seu destino. A porta da carruagem se abriu e ele viu que estavam em um lugar tão macabro quantoaquelas montanhas. Deu a volta sobre a carruagem segurando a mão do seu irmão Radu e seus olhos fizeram com que seu corpo estremecesse. Viu um enorme portão com esculturas de demônios e criaturas estranhas esculpidas.


Revisão: Sarita Reis
Contato: Reissarita982@gmail.com


Nenhum comentário:

Postar um comentário