Vita Bellum: O poder da informação
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A noite era confortável, o frio não incomodava as pessoas que
decidiam sair de suas casas, porém, maltratava quem não tinha vestes o
suficiente para se proteger das tênues brisas de vento. Principalmente para uma cidade rodeada pelo
mar gélido igual a santos. Era uma noite
de sexta-feira, porém não era uma sexta qualquer, era a primeira sexta do mês.
Na verdade era um dia qualquer para a maioria das pessoas daquela cidade, mas
não para aqueles que ouviam RAP e também acompanhava toda a Batalha de MC’S que
acontecia no emissário, mais conhecido como o quebra mar. Aquele evento ocorria
sempre na primeira sexta do mês, um evento onde dezenas de garotos que tinham o
mesmo sonho, o mesmo objetivo, se encontravam e travavam uma difícil batalha de
dois rounds de 40 segundos para cada um dos que iriam se enfrentar, tendo o
terceiro caso empatassem. Essa batalha não era travada com espadas e escudos,
pistolas e munições, era uma batalha onde o raciocínio e inteligência era a
maior arma e maior defesa. Vencia um
round o MC que nos seus quarenta segundos usasse melhor as combinações de rima
e palavras, deixando seu inimigo sem reação, dizendo algo parecido com a
realidade dele. Nesses eventos, a partir do momento em que uma rodada começava
ambos os participantes esqueciam um do outro, deixando de lado qualquer elo
sentimental ou algo do tipo, apenas pensando em derrotar o outro a sua frente.
Mas aquilo durava apenas os quarenta segundos de luta, após cada término de
rodada, era fácil e notável de ver ambos os participantes um cumprimentado o
outro e se elogiando. Aos olhos de quem não conhecia aqueles grupos, aquilo era
falsidade, mas para quem era de dentro da tribo, o respeito fluía a qualquer
momento, a amizade era valiosa e eles sabiam que um sem o outro, não estariam
ali. Artur e Marlon eram amigos desde crianças, se conheceram em uma lan hause
enquanto jogavam Conquer, um jogo online. Essa amizade apenas se fortaleceu
nesses seis anos de idade. Marlon era um garoto negro e saudável e Artur
moreno, um pouco mais forte que o amigo fisicamente. Ambos tinham se encontrado
no local para juntos acompanhar a batalha que esperaram ansiosamente para
acontecer.
- Vish, esses cara são muito foda, sério, eles tiram a rima do
nada. – Disse Artur enquanto observava atentamente e tentava acompanhar os
raciocínios do homem moreno e alto que rimava.
- É, zicão né! – Respondeu Marlon, sem dar muita atenção para seu
amigo, sua maior vigília era para a batalha. Artur percebendo a atenção do
amigo apenas fazia o mesmo, não podia reclamar. Marlon desde criança fora
daquele universo, às vezes, parecia que ele respirava e comia isso, desde
criança, sempre foi voltado para a Realidade
Através das Palavras.
Algumas horas tinham se passado, ambos os amigos tinham
acompanhando atentamente a rixa dos mestres de cerimônia do inicio até o fim.
- Para, sem maldade, pra mim o outro foi melhor. – Reclamou Artur
enquanto eles se caminhavam para o Deck. Um local reservado para se sentar, com
uma pena arquibancada feita de madeira de frente pro mar.
- Mas a maioria não, é assim que eles escolherem o vencedor, a
multidão que decide. – Respondeu Maicon deixando um sorriso nos lábios.
- Eu sei idiota, apenas dei meu ponto de vista.
- Não quero saber seu ponto de vista! – Respondeu friamente o
garoto negro.
- Vá se fuder então, seu retardado. – Ao dizer aquilo Artur
acelerou o passo, deixando seu amigo para trás.
- To brincando Artur. – Disse enquanto caiu em gargalhadas. – Era
zuera seu idiota, espera. – Gritou Maicon para seu amigo enquanto corria atrás
dele.
- Aff, brincadeira sem graça né..
- Zuera, já passou rs. - Terminou enquanto se sentavam no Deck,
observando o mar. O local estava cheia de adolescentes de todo o tipo, dezenas
de tribos ocupavam o quebrar mar nos fins de semana, lá, você podia encontrar
rockeiro, pagodeiro, funkeiro, reppers, gótico, emo etc. O cheiro de álcool e
cannabis sativa encobriam todo o local, era bem provável caso você não bebesse
ou fumasse, iria ficar louco de ‘’tabela’’.
- Semana que vem vai ter outro evento de rap – Continuou Marlon,
tentando quebrar o gelo - Dez reais só e 1 k de algum alimento perecível!
Artur estava sentando com os cotovelos apoiados no joelho e o
queixo apoiado nas mãos. Lançou um olhar
frio e Marlon percebeu o mesmo ainda estava nervoso. Que maluco estressado. Pensou o moreno continuando.
- Po mano.. É o RAP RAP RAP – A voz de Marlon ecoou rápida e
baixa. Mais parecia um velho reclamando em sussurro do que um jovem falando.
Artur manteve um semblante ríspido mas quando seu amigo abriu um
sorriso estranho e repetiu as palavras RAP
RAP RAP com aquele tom engraçado, não conseguiu se segurar e riu junto.
- QUEEE LOOCOOO! – Grunhiu rindo com seu amigo. – Onde vai ser
esse evento? – Perguntou Artur, agora com um sorriso e interessado no assunto.
- Vai ser a Dub Crew, é um evento
beneficiante. Vai tocar uns loucos do Território 13, Crias da Baixada..- Marlon
fechou os lábios e ficou em silenciou por poucos segundos, concentrando-se em
se lembrar dos outros nomes que ouvira. - Um tal de Ne-green, Gabriel Azul e
uns mano só no instrumental.
Artur avaliou o evento por alguns segundos e assentiu. Gostava de
todo tipo de conteúdo e aos poucos estava se apaixonando por aquele tipo de
Arte, por que não ir então?
-Fechou! – Confirmou Artur. Não era necessário perguntar se Marlon
ia.
~~
Artur caminhava sozinho em meio a uma estrada de barro. Ao seu
redor o mato cerrado lhe fazia companhia e a escuridão tomava conta de tudo a
mais de dez metros de distância. Sentia-se entorpecido, os pés moviam-se
sozinhos para frente e mal conseguia controlar o próprio corpo. A visão
embaçada não lhe deixava enxergar muito bem, enquanto andava para frente pôde
ver uma silhueta abaixada. Um guerreiro? Tinha
certeza que estava vendo um homem trajado de armadura caído a menos de 15 metros
de distância. Continuou se aproximando, tendo a visão turva. Repentinamente um
grunhido ecoou atrás de si, olhou para trás e viu que uma coruja estava parada
atrás dele. Aquilo fez seu corpo
estremecer. Uma coruja? Que merda é isso?
Virou novamente a cabeça para frente
e sentiu a loucura tomar conta de si.
- AAhhhh! – gritou Artur, sentando-se em sua cama. O corpo estava
suado e seu padrinho estava parado em
frente a porta do quarto, olhando-o com uma expressão assustada e
preocupada. – Pesadelo...Maldito pesadelo...- Berrou o adolescente, tentando
segurar a respiração e manter a calma.
- Calma garotão. É assim que recebe seu padrinho quando vem lhe
visitar!
Fausto era um homem esguio de cabelos grisalhos e boa aparecia. Um
rosto fino assim como seu nariz, estava com uma ótima aparecia apesar de estar
aos 50 anos.
- Padrinho....- Sussurrou e
antes que pudesse falar algo, sua mãe apareceu atrás do homem esguio.
- Algum problema filho? – perguntou a mãe do garoto preocupada.
- Ele teve um pesadelo Maria – Fausto se manifestou antes mesmo do
adolescente e Artur deixou um sorriso sem jeito transparecer. – Não se preocupe
ele está bem. E vai se arrumar para nos darmos uma passeada!
- Lá vem você! Vai deixar meu filho mal acostumado Fausto! –
Fausto era um conhecido psicólogo de Santos e tinha uma boa renda. Artur sempre
passava horas se perguntando como o pai dele, um humilde motorista de ônibus tinha
conhecido aquele homem. Que apesar de ter muito dinheiro, tratava as pessoas
com respeito e humildade. Era o que Artur mais admirava em seu padrinho.
Duas horas depois Fausto já tinha levado Artur ao Shopping e ambos
permaneceram lá, por horas conversando sobre tudo. Futebol, mulher, filmes,
livros que era a maior paixão do garoto e até um pouco sobre politica. Fausto se surpreendeu com o garoto de 16
anos, apesar de sua idade e de suas condições, parecia que ele estava crescendo
mentalmente de forma surpreendente. Desde que o Pai do garoto morrera e Fausto
prometeu cuidar do garoto como se fosse um filho. Ficou preocupado com a
educação e estudos do garoto, sabia que infelizmente ele não poderia alcançar
toda a sua capacidade por causa de suas limitações financeiras. Mas Artur estava surpreendendo o padrinho.
Agora eles caminhavam pela praia do Embaré, passos lentos e firmes, um ao lado
do outro. Pai e filho. Pensou Fausto,
mas logo tirou isso da cabeça. Artur era filho de Valdir.
- Esses livros que você está lendo estão abrindo sua cabeça. –
Comentou Fausto, percebendo que Artur não tirava os olhos de uma linda morena
que andava em direção ao contrário deles, logo se aproximando a cada passo. A
mulher estava com trajes de praia e tinha grande coxas e assim como seu cabelo
escuro que descia até a cintura. Ao se aproximar mais deles Artur disfarçou e
comentou.
- Tem que fazer alguma diferença né? Leio tanto. – Artur olhou
para um monumento logo a frente deles. – O senhor sabia que aquilo é um
monumento maçom?
Fausto olhou para o adolescente enquanto andava e por alguns
segundos surpreendeu-se.
- Um monumento Maçom? O que sabe disso ai? - Perguntou o padrinho interessado.
- Não muita coisa, mas sei que é um monumento maçom! – Continuou
Artur, olhando para Fausto e deixando um sorriso embaraçado no rosto. O
adolescente tinha olhos castanhos escuros e um sorriso elegante.
- E se eu disser que você está meio certo e meio errado? –
Respondeu o padrinho. Olhando para Artur e mantendo os olhos um poucos fechados
por causa da luz do Sol.
- Como assim? – Indagou o garoto, triste por estar meio errado e
meio certo.
- Isso não é um símbolo maçônico. – Corrigiu o padrinho, mantendo
um tom de voz compreensivo. Ensinando educadamente ao garoto. – É um monumento
em homenagem á Ordem Demolay!
- Demolay? Como assim? Não
é da maçonaria?
Fausto agora seguia em direção ao monumento, explicando melhor a
diferença para o garoto.
- Demolay é uma ordem patrocinada pela Maçonaria. A ordem pode ser
encontrada em vários lugares diferentes do mundo: Argentina, Aruba, Canada,
Estados Unidos, França, Itália, Japão e muitas outras.
Artur olhou para seu padrinho boquiaberto, um pouco surpreendido
por Fausto conhecer aquilo. Aproximando-se mais do monumento, pela primeira vez
olhou atentamente o monumento. Era uma
coroa cruzada por duas espadas, um elmo por cima dele. Pedras vermelhas
revestindo as laterais da coroa. Ao centro da coroa havia um circulo de fundo
azul com uma lua crescente rodeada por estrelas.
- Co...Como o senhor sabe tão bem disso? –Artur perguntou contundo
seus olhos estavam fixos ao monumento. Talvez tivesse sido coincidência, talvez
besteira, mas aquele monumento agora o fazia lembrar-se do pesadelo que tivera
antes de acordar.
- Bem, sou um homem velho. Já vi e vivi muitas coisas garoto. –
Respondeu Fausto pousando a mão direita nos cabelos escuros e arrepiados do
garoto. Contundo Artur não deu muita atenção para aquela resposta. Estava
perplexo e procurando alguma resposta enquanto pensava sozinho.. Havia um homem morto...Não reconheci ele mas
ele estava morto e me entregava...Me entregava um elmo e espada...
RAP RAP RAP, LEITURA LEITURA LEITURA.
ResponderExcluirSaudações Negreen mano, está muito bom mesmo !
Hhahahaha. O RAP RAP RAP nas noites insanas vai pegar kkkkk
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