segunda-feira, 24 de junho de 2013

Vita Bellum: O poder da informação

Vita Bellum: O poder da informação
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A noite era confortável, o frio não incomodava as pessoas que decidiam sair de suas casas, porém, maltratava quem não tinha vestes o suficiente para se proteger das tênues brisas de vento.  Principalmente para uma cidade rodeada pelo mar gélido igual a santos.  Era uma noite de sexta-feira, porém não era uma sexta qualquer, era a primeira sexta do mês. Na verdade era um dia qualquer para a maioria das pessoas daquela cidade, mas não para aqueles que ouviam RAP e também acompanhava toda a Batalha de MC’S que acontecia no emissário, mais conhecido como o quebra mar. Aquele evento ocorria sempre na primeira sexta do mês, um evento onde dezenas de garotos que tinham o mesmo sonho, o mesmo objetivo, se encontravam e travavam uma difícil batalha de dois rounds de 40 segundos para cada um dos que iriam se enfrentar, tendo o terceiro caso empatassem. Essa batalha não era travada com espadas e escudos, pistolas e munições, era uma batalha onde o raciocínio e inteligência era a maior arma e maior defesa.  Vencia um round o MC que nos seus quarenta segundos usasse melhor as combinações de rima e palavras, deixando seu inimigo sem reação, dizendo algo parecido com a realidade dele. Nesses eventos, a partir do momento em que uma rodada começava ambos os participantes esqueciam um do outro, deixando de lado qualquer elo sentimental ou algo do tipo, apenas pensando em derrotar o outro a sua frente. Mas aquilo durava apenas os quarenta segundos de luta, após cada término de rodada, era fácil e notável de ver ambos os participantes um cumprimentado o outro e se elogiando. Aos olhos de quem não conhecia aqueles grupos, aquilo era falsidade, mas para quem era de dentro da tribo, o respeito fluía a qualquer momento, a amizade era valiosa e eles sabiam que um sem o outro, não estariam ali. Artur e Marlon eram amigos desde crianças, se conheceram em uma lan hause enquanto jogavam Conquer, um jogo online. Essa amizade apenas se fortaleceu nesses seis anos de idade. Marlon era um garoto negro e saudável e Artur moreno, um pouco mais forte que o amigo fisicamente. Ambos tinham se encontrado no local para juntos acompanhar a batalha que esperaram ansiosamente para acontecer.

- Vish, esses cara são muito foda, sério, eles tiram a rima do nada. – Disse Artur enquanto observava atentamente e tentava acompanhar os raciocínios do homem moreno e alto que rimava.

- É, zicão né! – Respondeu Marlon, sem dar muita atenção para seu amigo, sua maior vigília era para a batalha. Artur percebendo a atenção do amigo apenas fazia o mesmo, não podia reclamar. Marlon desde criança fora daquele universo, às vezes, parecia que ele respirava e comia isso, desde criança, sempre foi voltado para a Realidade Através das Palavras.

Algumas horas tinham se passado, ambos os amigos tinham acompanhando atentamente a rixa dos mestres de cerimônia do inicio até o fim.
- Para, sem maldade, pra mim o outro foi melhor. – Reclamou Artur enquanto eles se caminhavam para o Deck. Um local reservado para se sentar, com uma pena arquibancada feita de madeira de frente pro mar.

- Mas a maioria não, é assim que eles escolherem o vencedor, a multidão que decide. – Respondeu Maicon deixando um sorriso nos lábios.

- Eu sei idiota, apenas dei meu ponto de vista.

- Não quero saber seu ponto de vista! – Respondeu friamente o garoto negro.

- Vá se fuder então, seu retardado. – Ao dizer aquilo Artur acelerou o passo, deixando seu amigo para trás.

- To brincando Artur. – Disse enquanto caiu em gargalhadas. – Era zuera seu idiota, espera. – Gritou Maicon para seu amigo enquanto corria atrás dele.

- Aff, brincadeira sem graça né..

- Zuera, já passou rs. - Terminou enquanto se sentavam no Deck, observando o mar. O local estava cheia de adolescentes de todo o tipo, dezenas de tribos ocupavam o quebrar mar nos fins de semana, lá, você podia encontrar rockeiro, pagodeiro, funkeiro, reppers, gótico, emo etc. O cheiro de álcool e cannabis sativa encobriam todo o local, era bem provável caso você não bebesse ou fumasse, iria ficar louco de ‘’tabela’’.

- Semana que vem vai ter outro evento de rap – Continuou Marlon, tentando quebrar o gelo - Dez reais só e 1 k de algum alimento perecível!

Artur estava sentando com os cotovelos apoiados no joelho e o queixo apoiado nas mãos.  Lançou um olhar frio e Marlon percebeu o mesmo ainda estava nervoso. Que maluco estressado. Pensou o moreno continuando.

- Po mano.. É o RAP RAP RAP – A voz de Marlon ecoou rápida e baixa. Mais parecia um velho reclamando em sussurro do que um jovem falando.

Artur manteve um semblante ríspido mas quando seu amigo abriu um sorriso estranho e repetiu as palavras RAP RAP RAP com aquele tom engraçado, não conseguiu se segurar e riu junto.

- QUEEE LOOCOOO! – Grunhiu rindo com seu amigo. – Onde vai ser esse evento? – Perguntou Artur, agora com um sorriso e interessado no assunto.

- Vai ser a Dub Crew, é um evento beneficiante. Vai tocar uns loucos do Território 13, Crias da Baixada..- Marlon fechou os lábios e ficou em silenciou por poucos segundos, concentrando-se em se lembrar dos outros nomes que ouvira. - Um tal de Ne-green, Gabriel Azul e uns mano só no instrumental.

Artur avaliou o evento por alguns segundos e assentiu. Gostava de todo tipo de conteúdo e aos poucos estava se apaixonando por aquele tipo de Arte, por que não ir então?

-Fechou! – Confirmou Artur. Não era necessário perguntar se Marlon ia.

~~

Artur caminhava sozinho em meio a uma estrada de barro. Ao seu redor o mato cerrado lhe fazia companhia e a escuridão tomava conta de tudo a mais de dez metros de distância. Sentia-se entorpecido, os pés moviam-se sozinhos para frente e mal conseguia controlar o próprio corpo. A visão embaçada não lhe deixava enxergar muito bem, enquanto andava para frente pôde ver uma silhueta abaixada. Um guerreiro? Tinha certeza que estava vendo um homem trajado de armadura caído a menos de 15 metros de distância. Continuou se aproximando, tendo a visão turva. Repentinamente um grunhido ecoou atrás de si, olhou para trás e viu que uma coruja estava parada atrás dele.  Aquilo fez seu corpo estremecer. Uma coruja? Que merda é isso?  Virou novamente a cabeça para frente e sentiu a loucura tomar conta de si.

- AAhhhh! – gritou Artur, sentando-se em sua cama. O corpo estava suado e seu padrinho estava parado em  frente a porta do quarto, olhando-o com uma expressão assustada e preocupada. – Pesadelo...Maldito pesadelo...- Berrou o adolescente, tentando segurar a respiração e manter a calma.

- Calma garotão. É assim que recebe seu padrinho quando vem lhe visitar!
Fausto era um homem esguio de cabelos grisalhos e boa aparecia. Um rosto fino assim como seu nariz, estava com uma ótima aparecia apesar de estar aos 50 anos.

-  Padrinho....- Sussurrou e antes que pudesse falar algo, sua mãe apareceu atrás do homem esguio.

- Algum problema filho? – perguntou a mãe do garoto preocupada.

- Ele teve um pesadelo Maria – Fausto se manifestou antes mesmo do adolescente e Artur deixou um sorriso sem jeito transparecer. – Não se preocupe ele está bem. E vai se arrumar para nos darmos uma passeada!

- Lá vem você! Vai deixar meu filho mal acostumado Fausto! – Fausto era um conhecido psicólogo de Santos e tinha uma boa renda. Artur sempre passava horas se perguntando como o pai dele, um humilde motorista de ônibus tinha conhecido aquele homem. Que apesar de ter muito dinheiro, tratava as pessoas com respeito e humildade. Era o que Artur mais admirava em seu padrinho.

Duas horas depois Fausto já tinha levado Artur ao Shopping e ambos permaneceram lá, por horas conversando sobre tudo. Futebol, mulher, filmes, livros que era a maior paixão do garoto e até um pouco sobre politica.  Fausto se surpreendeu com o garoto de 16 anos, apesar de sua idade e de suas condições, parecia que ele estava crescendo mentalmente de forma surpreendente. Desde que o Pai do garoto morrera e Fausto prometeu cuidar do garoto como se fosse um filho. Ficou preocupado com a educação e estudos do garoto, sabia que infelizmente ele não poderia alcançar toda a sua capacidade por causa de suas limitações financeiras.  Mas Artur estava surpreendendo o padrinho. Agora eles caminhavam pela praia do Embaré, passos lentos e firmes, um ao lado do outro. Pai e filho. Pensou Fausto, mas logo tirou isso da cabeça. Artur era filho de Valdir.

- Esses livros que você está lendo estão abrindo sua cabeça. – Comentou Fausto, percebendo que Artur não tirava os olhos de uma linda morena que andava em direção ao contrário deles, logo se aproximando a cada passo. A mulher estava com trajes de praia e tinha grande coxas e assim como seu cabelo escuro que descia até a cintura. Ao se aproximar mais deles Artur disfarçou e comentou.

- Tem que fazer alguma diferença né? Leio tanto. – Artur olhou para um monumento logo a frente deles. – O senhor sabia que aquilo é um monumento maçom?

Fausto olhou para o adolescente enquanto andava e por alguns segundos surpreendeu-se.

- Um monumento Maçom? O que sabe disso ai?  - Perguntou o padrinho interessado.

- Não muita coisa, mas sei que é um monumento maçom! – Continuou Artur, olhando para Fausto e deixando um sorriso embaraçado no rosto. O adolescente tinha olhos castanhos escuros e um sorriso elegante.

- E se eu disser que você está meio certo e meio errado? – Respondeu o padrinho. Olhando para Artur e mantendo os olhos um poucos fechados por causa da luz do Sol.

- Como assim? – Indagou o garoto, triste por estar meio errado e meio certo.

- Isso não é um símbolo maçônico. – Corrigiu o padrinho, mantendo um tom de voz compreensivo. Ensinando educadamente ao garoto. – É um monumento em homenagem á Ordem Demolay!

- Demolay? Como assim?  Não é da maçonaria?
Fausto agora seguia em direção ao monumento, explicando melhor a diferença para o garoto.

- Demolay é uma ordem patrocinada pela Maçonaria. A ordem pode ser encontrada em vários lugares diferentes do mundo: Argentina, Aruba, Canada, Estados Unidos, França, Itália, Japão e muitas outras.

Artur olhou para seu padrinho boquiaberto, um pouco surpreendido por Fausto conhecer aquilo. Aproximando-se mais do monumento, pela primeira vez olhou atentamente o monumento.  Era uma coroa cruzada por duas espadas, um elmo por cima dele. Pedras vermelhas revestindo as laterais da coroa. Ao centro da coroa havia um circulo de fundo azul com uma lua crescente rodeada por estrelas.

- Co...Como o senhor sabe tão bem disso? –Artur perguntou contundo seus olhos estavam fixos ao monumento. Talvez tivesse sido coincidência, talvez besteira, mas aquele monumento agora o fazia lembrar-se do pesadelo que tivera antes de acordar.

- Bem, sou um homem velho. Já vi e vivi muitas coisas garoto. – Respondeu Fausto pousando a mão direita nos cabelos escuros e arrepiados do garoto. Contundo Artur não deu muita atenção para aquela resposta. Estava perplexo e procurando alguma resposta enquanto pensava sozinho.. Havia um homem morto...Não reconheci ele mas ele estava morto e me entregava...Me entregava um elmo e espada...








2 comentários:

  1. RAP RAP RAP, LEITURA LEITURA LEITURA.
    Saudações Negreen mano, está muito bom mesmo !

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  2. Hhahahaha. O RAP RAP RAP nas noites insanas vai pegar kkkkk

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