terça-feira, 29 de julho de 2014

Espólio Sangrento: XI

Uma nova amizade

- Ele está sendo perseguido? – Perguntou o Sultão, um pouco satisfeito. Estava sentado em seu trono real. Diante dele um soldado mensageiro. O mesmo estava ajoelhado, olhando para o chão.

- Como esse moleque consegue? Ele tem apenas treze anos e consegue dar toda essa dor de cabeça? – A voz de Mehmed II soava um pouco mais solene. O mesmo segurava o pergaminho com menos ódio que sentira outrora. Estava trajando um pano que envolvia todo seu corpo. Um cetim vermelho e sua coroa de realeza. O local era o salão real. O mesmo tinha quase trinta metros quadrados, rodeado por soldados nas laterais em pé. Todos segurando lanças em posições de defesa, fazendo a proteção do seu rei.
O mensageiro ouviu e pensou: Ele é mais esperto que todos nós, que todos nós. Mas é claro, ele apenas pensou, não ousaria dizer algo daquele tipo em voz alta. Sabia que se falasse, seriam suas ultimas palavras.

- E o mais novo? Onde ele está?

- Está na biblioteca, lendo os livros dos seus ancestrais meu senhor. – Respondeu o mensageiro, ainda olhando para o piso branco.

- Este garoto é idiota, mas ainda consegue ser tão esperto quanto Vlad. Ele sabe que se não me dar dor de cabeça, ele não sofrerá. Garoto esperto.
~~
Os gorgulhos  abissais ecoavam pela mata escura. Os animais noturnos caçavam suas presas, as presas que tinham sorte conseguiam escapar de seus predadores. Aquelas que tinham azar sentia a dor da captura, a dor do bote dos seus predadores. Era exatamente esta dor que Vlad estava prestes a sentir. Os caninos finos iriam penetrar sua carne fina e talvez dilacera-lo, com pouco de sorte, sairia vivo, mas a sorte iria acabar quando fosse entregue ao Sultão. Estava exausto, cansado, quase desmaiando quando sentia o cheiro de pelo molhado aproximando-se de si e segundos depois uma criatura escura com olhos vermelhos ficando a sua frente.

­ Um lobo? Isto é um lobo?

Sua visão era turva, sua consciência estava fraca, entrou em um pequeno estado de vigília graças à adrenalina que seu corpo criará ao ver aquele animal tomando a frente de si.
Estou enlouquecendo...Não...Isto é uma alucinação, como um animal desse pode me 
proteger? Por que está tentando me proteger?

Agora via o lobo andando de um lado para o outro, mostrando os caninos enormes para os cachorros, parecia estar feroz, furioso. Não consigo entender.

Os cães treinados fitavam e se preparavam para bote contra a criatura funesta.

O lobo não conseguia entender o porquê de estar ali, protegendo aquela criança. Não reconhecia o seu cheiro, nunca sentiu um odor familiar se quer, mas algo o impulsionava para tal ato. Repentinamente os dois cães que estavam nas laterais avançaram, ágeis e com precisão.

O lobo esperou cerca de três segundos e avançou na direção do maior, primeira iria ferir o mais agressivo, deixando-o ferido para depois atacar o menor. Ele era experiente e sábio para sua espécie, era velho, mais velho que muitos homens.

Com sorte, teve êxito e conseguiu atacar primeiro que a dupla. Ao aproximar-se de mais do cão maior, abaixou-se impulsionou as patas dianteiras contra o chão, fazendo-o dar um pequeno pulo de baixo para cima, abocanhado o pescoço do cachorro. Cravou os dentes ferozes e sentiu o sangue quente descer por sua garganta. Era delicioso, saboroso e prazeroso. Como era bom o gosto de sangue.

Caso Vlad pudesse ver, iria notar os olhos vermelhos brilharem de satisfação.
O cão uivou de dor, um uivo alto e agonizante, chamando a atenção de todos e tudo que estivesse por perto.

Os olhos de Vlas estavam quase fechados novamente, mas o rugido de aflição fizera com que um arrepio o mantivesse acordado.

Ele realmente vai me proteger...Que animal é este?

Mas a sorte não estava totalmente ao lado do lobo. O mesmo acreditou que ao acertar o seu bote, o menor iria se afastar. Mas isso não aconteceu.

Sentiu as presas do outro cão contra sua coxa direita traseira e virou rapidamente, acertando uma mordida forte contra o rosto do cachorro. Os dentes perfuravam um dos olhos do animal de pele branca e este caiu no chão chorando, um som agudo e irritante.

Meus ouvidos..Mate esse animal de uma vez.

O lobo olhou para trás como se tivesse ouvido Vlad e o coração do garoto acelerou.
O animal negro deu um pequeno salto contra o cachorro caído e dilacerou o pescoço dele, criando uma enorme poça de sangue no chão. Os outros dois cães rodeavam-se o lobo enquanto os outros dois estavam mortos.

Vlad sorriu. Como eu amo essa cor, este vermelho forte, está cor que reflete a vitalidade.
Mas arregalou os olhos quando um dos cães o fitara e voltara a rosnar para ele.
Não....Para mim não...Olha o lobo...Olha o lobo....- Pensou o garoto fraco e cansado, incapaz de levantar-se novamente e correr.

O lobo se manteve rodopiando lentamente, mantendo o mesmo ritmo do cão que o rondava. O garoto, tenho que proteger o garoto. Tentou avançar em um bote mas sentiu a dor da sua pata traseira, era impossível dar um bote eficaz e rápido, infelizmente teria que esperar o cão avançar para esquivar-se e mata-lo.

Vlad olhou para os lados, procurando qualquer coisa que pudesse usar para se defender caso o cão avançasse contra si. Tudo que seus olhos negros e redondos viam eram pequenas pedras e alguns galhos quebrados. Por favor, não avance, não avance!

E fora exatamente isso que o cão bravo fez, avançou e pulou em cima do garoto. Em um movimento rápido defensivo, Vlad colocou o braço esquerdo por cima do rosto e em seguida sentiu as os dentes ferozes do animal penetrando sua carne, chegando a seu osso.

- NÃO! SEU FILHA DA PUTA!  ISSO DÓI, NÃOOO!

O garoto tentou mover o braço, chacoalhar para o cão soltar e descobriu que isso seria uma péssima ideia, já que os dentes do cachorro tinham penetrado sua carne.
Vou te mata-lo, não importa mais, vou te matar!

­A dor era agonizante e com muita fúria e ódio Vlad fechou a mão e socou a cabeça do cão. Após cinco movimentos percebeu que era inútil e então olhou para o chão, pegando a maior pedra que conseguiu ver, levando novamente a mão contra a cabeça do animal, mas dessa vez acertando a cabeça do bicho com a ponta da pedra. Apenas três movimentos foram necessários para o cão soltar seu braço e começar a gemer de dor. Com o mesmo braço que segurava a pedra,  jogou a criatura no chão e com ferocidade e ódio, esmagou a cabeça do animal.

- MORRA!MORRA! MORRAAAA!
O lobo negro não podia mais proteger a criança, não por enquanto. Tinha que primeiro terminar o assunto com o ultimo cão agora.

Humanos são tão inteligentes, mas sem armas, são tão fracos e sensíveis. Ele vai ter que se virar.

Tentou dar um bote, mas sentiu a carne da coxa repuxando, fazendo-o cambalear de dor. O cão a sua frente era inteligente. Sabia que tinha certa vantagem, não tinha nenhum ferimento e estava esperando o lobo atacar.

Repentinamente um grito de dor fora ecoado pelo local.

Ele foi pego...

Segundos depois era o gemido do cão que se podia ouvir. O cão diante o lobo se distraiu e virou um pouco do seu corpo, podendo ver a situação.

AGORA!

Pensou o lobo e avançou contra a jugular do cachorro, mordendo com todas suas forças a carne do animal, movendo a cabeça de um lado para o outro, arrancando a carne do animal.
Não demorou e o cão caiu inerte, morto.

Mas que diabos.

Naquele momento sentiu certo orgulho. Entendeu o porquê estava sendo atraído pela aquela criança. Ele não é um humano comum.

Vlad estava em cima do cachorro, sua mão direita segurava uma pedra coberta de sangue. O chão era uma verdadeira poça de liquido vermelho e a cabeça do animal estava totalmente destruída.

Os olhos do garoto brilhavam de felicidade, de prazer. Ele respirava e fitava o animal morto como se fosse um prêmio, como se fosse sua maior arte já criada. O braço esquerdo do menino sangrava, estava mordida, um grave ferimento.

Ele soube se defender!

- AQUI! ELES ESTÃO AQUI!

Vozes de humanos foram ouvidas tanto pelo lobo, quanto pela criança. Mas antes que o lobo pudesse se virar, ele sentiu dois espinhos penetrando suas costas.
Ele se virou, cambaleou para trás, fraco, sentindo uma enorme dor, estava muito ferido.

- NÃO, NÃO O MATE! NÃO O MATE!

Naquele instante, dor, cansaço. Nada disso passou a existir, Vlad se levantou e correu para frente do animal. Era a vez de ele protegê-lo agora.

- Mas que merda é essa? Um lobo gigante? – Gritou espantando o soldado que almejava uma besta com algumas flechas.

- Os olhos desse animal, são vermelhos como sangue. Que demônio é este? – Murmurou outro soldado. Eram cinco no total.

- Não o mate, por favor. Me levem, mas não o mate! – Implorou o garoto, voltando a sentir o cansaço querendo derruba-lo.

- VocÊs mataram todos os cachorros? QUE DEMÔNIOS VOCÊS SÃO?
Gritou o líder dos soldados, avançando até Vlad e o empurrando ao lado.

- Vou exterminar essa criatura! – Disse enquanto levantava a lança que segurava, contudo, o lobo já não estava mais lá, tinha desaparecido.

O soldado olhou para Vlad que agonizava no chão, segurando o braço mordido.

- Vejo que sofreu nessa fuga, espero que aprenda. Você não pode fugir de nós.

Agora Vlad estava sentando em cima de um cavalo, sendo levado de volta para o Sultão. O que vai acontecer comigo? Meu deus, o que vai acontecer comigo? E o lobo, como ele está?


Sentia-se confuso, perdido. Quando de repente ouviu um uivo alto. Não era um uivou qualquer, era o mesmo uivou que ouvira no dia que fora entregue ao Sultão e descobriu que era o uivo de seu amigo lobo.


segunda-feira, 28 de julho de 2014

Meu primeiro livro : DOR & DESESPERO

Boa noite (boa tarde, bom dia )

Bem,finalmente vou começar a vender meu livro e de forma independente.  Como vou fazer isso? Irei vendê-lo em formato PDF.
Caso você queira comprar o livro irei vende-lo por R$ 10.00 
Como? Ou você me adiciona no FaceBook Fell-Escritor
Ou me mandar um email.
felipe.autor@outlook.com


Nome: Dor & Desespero
Status: Esperando Editora
Gênero: Antologia, Terror, Horror e suspense.
Paginas: 255
Arquivo: PDF

Revisão: Sarita Reis
reissarita982@gmail.com

Capa

Desenho: Douglas Santana
 Dougxp32@hotmail.com

Arte final/Cores: Dressa Maya
spnytk@hotmail.com


Contos

Amor Obsessivo.
Hector, um escritor renomado que vive na cidade de Santos. Após Helen morrer, Hector sentia-se perdido e sem inspiração. Sua mulher sempre foi seu ponto de paz e com a morte dela, chega a sua própria loucura. Perdido na escuridão Hector começa a se prender em sua maior criação. Helena que foi uma personagem criado sendo o sinônimo de tudo o que Helen representava. Contudo, a loucura do escritor se torna algo incontrolável.

Babel.
Nimrod, o Soberano babilônico sacrifica seis pessoas todos os anos como oferenda ao Deus do Sol Baal. Capturando os três piores homens e as mais inocentes das mulheres, Nimrod abandona as seis pessoas dentro de uma Zigurate, uma espécie de pirâmide usada para sacrifícios aos Deuses. Dentro da mesma um enorme labirinto irá separar os mortais, contudo. Um Deus nefasto e pútrido irá jogar com as almas dessas pessoas.

Marcas da Morte.
Dan, um jovem inteligente se envolve com os maiores cabeças de sua empresa. Carlos (o padrinho dele na empresa) consegue fazer com que Lucius o gerente da empresa convide o jovem para passar o fim de semana na casa do lago dele, em Curitiba. Repentinamente um dos cabeças da empresa aparece morto em seu escritório: Seu corpo está dilacerado e ensanguentado e uma escrita na parede com o sangue dele deixa um recado que faz todos se arrepiarem. O tempo passa e todos esquecem o suposto suicídio. Na casa do lago em Curitiba acontecimentos paranormais começam a ocorrer e a morte chega abraçando um de cada vez. Será o passado desses ricos implorando vingança ou apenas o caso?

O preço da alma.
 Roberto acorda repentinamente em uma floresta obscura. O frio trás a sensação de morte e o silêncio consome sua alma. O ex- contador não se lembra que lugar é aquele e como foi parar ali. Um pequeno duende alerta Roberto, dizendo que seus maiores pesadelos irão caçá-los iguais a zumbis. O enredo se distorce enquanto a narração muda para algumas ''horas'' atrás. Mostrando como aquele homem foi parar naquele lugar e volta a se distorcer quando a narração ao mostrar a infância do homem. Que era perturbada graças a sua prima doente. Xadrez Mortal. Fernanda é uma bela morena segue para o seu lazer noturno de toda Sexta-feira. Na IX de Novembro em Santos, toda sexta a noite ocorre um evento Happy Hour. Bebida e som alto. Fernanda decidida a encontrar alguém para passar a noite defronta-se com Tiago, um homem alto, moreno e bonito. Contudo ela nem imagina que lá seria o começo para um jogo de vida e morte envolvendo outras pessoas. 

domingo, 27 de julho de 2014

Espólio Sangrento - VIII

 Sedento por sangue

Os músculos pediam por descanso, o cansaço iria vencê-lo. Cada passo dado era como se uma faca fosse cravada em suas panturrilhas. Respirar nunca foi tão difícil para Vlad. E eu achava que meu mestre de armas era exagerado, quando dizia que eu precisava me manter treinado. Que iria ter querido treinar mais quando minha vida dependesse da minha condição física. Conseguiu pensar enquanto esquivava-se das árvores desesperadamente. A lua estava novamente no lugar do sol, uma lua cheia e luminescente, capaz de iluminar uma grande parte daquele território Turco. Estava fugindo há quase doze horas, nunca imaginou que poderia correr tanto, mas iria correr, correr até seu corpo parar por conta própria. Não poderia se dar ao luxo de parar, sentar e descansar. Não enquanto quatro cachorros brancos e enormes corriam em sua direção. Não sabendo que caso fosse capturado, dessa vez o seu castigo seria muito mais que uma pequena punição. A humilhação seria grande, monstruosa. Sabia que não seria morto, não perderia nenhum membro, mas a humilhação seria grande. Uma punição que o garoto nunca mais ousaria esquecer.


Seus olhos fechavam-se por conta própria, estava exausto, com sono, naquele momento a fadiga era sua pior inimiga. E o frio que sempre fora agradável, sempre fora sua amiga, agora fazia o vento parecer laminas cortando seu rosto quando passava por seu rosto.

Os cães atrás de si corriam e latiam, babavam de fúria e ódio. Vlad nunca imaginou que seria possível de fugir de cães por tanto tempo. Contudo o garoto usou muito mais que seu corpo, usou seu cérebro, escondeu-se entre escombros, conseguiu até matar dois dos cachorros, mas isso apenas lhe deu mais tempo e fez com que ficasse ainda mais cansado. Os soldados estavam atrasados, tentando manter o ritmo de fuga, seguindo os rastros da fuga para depois que o garoto fosse pego eles os alcançasse.

Sentiu uma dor forte em seu peito, apoiou a mão em uma árvore e parou, olhando para trás e tentando manter a respiração equilibrada. Nessa pausa de cinco segundos os cachorros se aproximaram dois metros dele e ele sentiu o desespero tomar conta de si. Virou-se e correu, não conseguindo manter os olhos abertos por mais de 10 segundos correu menos de dez metros e bateu o ombro em um grande carvalho, fazendo com que seu corpo rolasse alguns metros no solo coberto de pedras e galhos quebrados. Viu tudo girado e sentiu suas costas batendo contra outra árvore.

- Arghh....

Encostou-se rapidamente contra o tronco, sentindo a dor nas costas causada pelo impacto. Naquele momento seu corpo cedeu ao cansaço. Sentiu que não conseguiria mais se levantar, muito menos correr. Mal conseguia manter seus olhos abertos enquanto os cachorros corriam (quase voavam) em sua direção.

Se esses animais desgraçados não me comerem vivo, agora chegou meu fim. Talvez seja 
melhor eles me comerem vivo, do que eu for pego e levado ao Sultão.

As pálpebras cansadas fechavam-se enquanto sua consciência era dominada pelo cansaço.
Até que um barulho atrás de si chamava a sua atenção. Virava-se lentamente e seu corpo caia no solo, enquanto sua visão turva fazia com que ele visse uma sombra negra de orbes rubra se aproximando de si.
~~

- Como assim? Como aquele pirralho fugiu? – Blasfemava o Sultão fitando de forma incrédula o pequeno Radu. – Além de fugir ele te bateu e furou os olhos de dois dos meus soldados?
Radu sentia-se assustado, acuado. Fora atacado pelo seu irmão mais velho agora Mehmed gritava enfurecido igual um louco com ele.

- Mas...Mas.. Eu não tenho culpa senhor. – Respondeu de forma baixa e olhando para o chão.

- Não tem culpa sua donzela? Seu coração mole de fresco fez com que ele saísse daquela prisão subterrânea, quase te matou, cegou dois dos meus soldados e fugiu. Como a culpa não foi sua?

- Mas sen..- Infelizmente Radu não pode terminar sua pronuncia já que a mão gorda do Sultão acertou em cheio a boca do garoto. O sangue voou para o chão e o menino caiu no chão, mantendo as mãos fracas contra o tapete vermelho.

- Mas nada sua donzela. Sua sorte que este tapete é vermelho, se não eu iria batê-lo mais ainda por suja-la. Ela foi feito pelo melhor tapeçarão desse reino seu menina.

Radu contraiu o choro, mordeu os lábios e sentiu o rosto ficar vermelho de vergonha. Ele era todo o oposto do seu irmão, era fraco, medroso e nunca conseguia se proteger sozinho. Era tão fraco que a culpa cairia em suas costas, enquanto o autor da traição fora seu irmão. Vou odiá-lo, vou odiá-lo.

- Isso mesmo, segure o choro. Está começando a aprender. –  Caminhava de um lado para o outro, impaciente. 

- Esse garoto..Ele tem que ser pego, ele vai ser pego.. E o seu castigo.... Ele vai ter um castigo... Vai ser humilhado. – Olhou para Radu e sorriu.  – Ele vai ser pego e terá uma grande punição.

- Eu não me importo, não me importo mesmo. – Respondeu o garoto, com os olhos fechados segurando as lagrimas. Teve certa dificuldade para falar a primeira vez, mas depois suou até de forma agradável.

- É bom que não se importe.
~~
A criatura de pelos negros caminhava cautelosamente em meio o ar gélido e reconfortante, reconfortante para ele, já que seus pelos o mantinham aquecido. Andava sem deixar pegadas ou barulhos, estava faminto, estava caçando a presa da sua noite. Um coelho? Uma raposa? Não sabia ao certo, apenas sabia que precisava se alimentar, seu instinto pedia isso.

O lobo negro caçava sozinho, sempre caçou assim, fazendo da lua sua única e melhor amiga em meio às caçadas noturnas.

Acreditou que aquela noite seria como todas as outras, contudo surpreendeu-se quando se sentiu atraído por algo. Não sabia ao certo o que era não tinha aquele doce aroma de sangue, de carne, muito menos tinha aroma. Suas orelhas treinadas para ouvir quaisquer que fosse o som, não tinha ouvido nada, simplesmente estava sendo atraído por alguma coisa.

Caminhou ao leste, seguindo seu instinto, preparando-se para o que iria encontrar. Sua barriga ainda estava vazia, mas a necessidade de seguir aquela intuição era mais forte que tudo. Em menos de cem metros de caminhada começou a barulhos diferentes, não um simples barulho de outros animais passeando, mas gritos de algum animal parecido com a sua raça, mas não eram lobos, ele conseguia reconhecer. Logo o cheiro de pelo sujo dominava suas narinas, eram animais peludos, mas não eram lobos.

O lobo negro de orbes rubro rosnou e avançou em direção dos latidos, em direção da sua intuição, como se algo o puxasse para lá. Conseguiu discernir um latido do outro, somando quatro ao total. Esquivava-se das árvores com agilidade e pericia, era um caçador, sabia como se movimentar sem chamar a atenção de suas presas, crescera toda a sua vida fazendo isso.

Não demorou muito para os olhos vermelhos fitarem uma criança caída no chão. Sabia que era uma criança, vivera muitos anos, sabia disso e de muitas outras coisas. Ele não era um lobo normal, outrora já teria sido, mas agora. Ele era um monstro criado por outro monstro.

Os cachorros viam sua presa caindo, acreditaram que agora, iriam mordê-lo. Não iriam mata-lo. Foram treinados para morder, paralisar e soltar. Mas repentinamente uma criatura negra emergiu das sombras, parecia com outros cachorros, mas ele era um pouco maior, mais forte e seus olhos eram vermelhos como sangue. Os cachorros pararam e rosnaram, enquanto a criatura negra parava na frente do garoto e começava a caminhar de um lado para o outro, mostrando os caninos enormes e o olhar sedento por carne, por sangue.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

Espólio Sangrento VII

As coisas aconteceram tão rápidas que após alguns dias, seria impossível lembrar-se dos detalhes. A única coisa que nunca iria esquecer era o calor daquele liquido rubro em suas mãos. O sangue dos olhos furados dos soldados jorrou-se contra seus dedos e a sensação pegajosa era agradável. Não apenas o sangue... Com certeza iria recordar também dos berros angustiantes dos soldados. Eles devem estar sentindo muita dor.... Com certeza, devem...Mas eu não me importo...Eu gosto....

Demorou menos de 1 minuto para estar diante a porta e quase outro minuto para acertar a chave do segundo andar. Manteve-se sobre controle. Concentrou-se ao ponto de não deixar as mãos tremerem de nervoso, não poderia perder tempo. Tinha que sair dali e fugir, salvar sua própria vida.
Que se dane esse afeminado...

A raiva do irmão fez com que ele pouco se importasse se o soco em seu peito teria matado ou não. Com certeza não e se arrependeu disso. Eu deveria ter matado aquele.....
Após abrir a porta do segundo andar, Vlad se deparou com um enorme túnel nefasto. O ar era úmido e escuro. Mas no final era fácil de ver uma luz. A luz no fim do túnel. Pensou enquanto corria desesperadamente em direção à saída.

O túnel tinha uma aparência escura, as paredes eram de um marrom escuro e chão ainda era de barro. Os dedos do garoto tocavam a terra úmida e aquilo revigorava a sensação de liberdade. Logo ele estava no final e encontrou-se diante uma enorme floresta. Ele disse a verdade... O velho Iikin...Ele disse a verdade..

Vlad suspirou pensando no seu velho amigo e olhou para trás. Naqueles instantes de emoção, deixou-se levar por sentimentos e descobriu que teria criado um elo com aquele escravo. Graças á ele eu estou livre. Vou fugir... Sentiu-se mais que grato. Sentiu-se também em dívida... Ele iria fugir, iria conseguir ganhar sua liberdade, contudo o que iria acontecer com o velho?

Naqueles segundos de ternura deixou-se molhar os olhos. Sentiu as lagrimas querendo fugir do seu semblante, mas a consciência fria e manipuladora voltaram a cantar. Sem tempo para isso. Tenho que fugir...

Apertou os olhos, suspirando e voltando a olhar para frente. Diante do garoto havia apenas árvores e verde. Não havia trilhas, caminhos. Qualquer coisa que pudesse indicar uma direção. Vlad seguiu em frente, não haveria muita diferença. Apenas seguiu em frente.

Andou pelo que pareciam ser horas, procurando qualquer coisa que lhe pudesse indicar algo. Procurava algum barulho além do cantar dos pássaros. Algum sinal de trilha ou vida humana. Mas tudo que conseguia encontrar eram apenas mais árvores e galhos quebrados. Após um tempo que também pareciam ter sido horas. Ouviu um barulho distante, algo como. Água corrente... Lago...Por aqui tem algum lago, riacho...Alguma coisa...

Aquilo não era nada, mas era o suficiente para dar um pouco de esperança. Seguia ao norte, aproximando-se do som e não demorou em encontrar uma cachoeira. O Sol estava quase se pondo, poucas linhas de luz conseguiam atravessar os inúmeros galhos, mas o tempo ainda estava quente e ele fedia... Como estava fedendo..Sabia disso.

Tirou a blusa e esqueceu-se de tudo. Deu-se ao luxo de por algumas horas de se esquecer de seus algozes. Com certeza estariam procurando por ele, caçando-o. Felizmente até aquele exato momento não havia sinais de ninguém, então iria aproveitar e relaxar o corpo. Para quando precisasse, ele voltasse a correr.

Deixou a blusa suada em cima de uma pedra na margem da cachoeira. Arrepiaram-se quando a água cristalina e gélida envolveu seus calcanhares. Entrou na água de calça. A mesma estava suja de barro e iria aproveitar para lavá-la. Iria deixar em algum lugar para secar e no outro dia de manhã iria lavar a blusa. Sabia que não era boa ideia dormir no frio sem estar cobrindo o peito. O velho Iikin também ensinara isso á ele.

Lembre-se. Nunca fique sem roupa nas madrugadas..Não vai lhe adiantar de nada fugir e morrer de alguma doença.. Lembre-se disso pequeno Vlad.

A água estava sob sua cintura, era limpa e agradável. Abaixou a cabeça e mergulhou os cabelos negros e compridos contra a água, levando também as mãos até a cabeça e tirando toda a sujeira do cabelo que chegava até os ombros. Passou também a mão pelo corpo, esfregando as unhas contra a pele. Queria tirar o máximo possível daquele mau odor. Sabia que era impossível sair de lá cheirando bem. Não havia nada para passar no corpo. Apenas água e as unhas.

Enquanto deixava sua mente relaxada e seu corpo descansado sobre aquela água limpa. Notou-se fitando seriamente a cachoeira e percebeu que atrás de onde a água caia havia um caminho.

Encontrei onde irei ficar. Pensou o pequeno, sorrindo e nadando em direção do buraco. Seu corpo atravessou a torrente e a pressão quase o derrubou. Avançou com força e deixou-se cair de joelhos, rindo. Como uma criança que era. Na maioria das vezes se esquecia disso.
Ajoelhado fitou a caverna com o teto em abóboda, a mesma tinha menos de cinco metros de altura e de extensão. Levantou-se suavemente, observando com um olhar curioso e cauteloso o objeto no final da caverna. Que diabos são isso?

Pensou enquanto observava com atenção objeto com uma moldura de um livro. Lentamente foi aproximando-se do mesmo. Infelizmente a luz do sol estava fraca e os raios solares quase não adentravam a caverna.

Logo aqui não haverá um raio de luz...

Continuou caminhando em direção do objeto e logo que chegou ao seu alcance, os dedos finos envolverem o objeto e percebeu que estava segurando um livro negro. Voltou para onde os raios solares eram presentes e abriu o livro de quase 30 centímetros de tamanho e largura. 
Folheou as paginas e logo percebeu que o mesmo estava escrito em alguma língua desconhecida. Não entendia seus símbolos e escrita. A única coisa que podia visualizar daquele livro eram as imagens. Imagens de coisas que pareciam rituais. Homens e mulheres em posições estranhas, criaturas demoníacas apareciam várias vezes. Aquilo chamou sua atenção, iria levar aquele livro consigo. Depois de um tempo iria descobrir uma forma de traduzi-lo.

 Que porra é essa?

Se não fosse tão frio teria soltado o livro no chão. Seu corpo todo estremeceu e seu coração acelerou quando ele a imagem que muito lembrava a Lágrima da Morte.

Levou a mão direita até o bolso enquanto segurava o livro com a esquerda e segurou com força a pedra negra. O susto não fora apenas por ver aquela imagem, mas por ter se esquecido da pedra.

Seu idiota.... E se ela tivesse caído, flutuado enquanto tava nadando...IDIOTA..
Vlad sentou no chão, deixando os joelhos contra o solo duro e pousou o objeto na outra pagina do livro. A imagem tinha quase o tamanho real da Lagrima da Morte e aquilo o excitou.

O livro dos Não Mortos. Esse deve ser o livro dos não mortos...

Analisou a imagem e sorriu. A vida poderia ser um saco, mas alguns desígnios do seu destino estava o surpreendo. Seria coincidência ele encontrar a pedra, o velho e depois o livro... Nos momentos em que menos esperava?

Não sabia... Também não tinha certeza se aquele era o livro dos mortos. Mas tudo também não poderia ser apenas coincidência.

Perdido em seus devaneios, deitado sobre aquele solo duro perdeu noção de sua consciência e dormiu. Era tudo escuro, silêncio e escuridão.

- Vlad? – Repentinamente encontrou-se diante aquela mesma floresta, mas era noite e os céus não havia estrelas.

- Vlad? Venha... Você quer? Não quer?
Olhou para todos os lados, sentia-se entorpecido. A visão era turva, não estava sentindo o tato, parecia estar flutuando e aquela voz meiga e gentil parecia vir de sua mente.

- Vlad? Você quer?

- O que eu quero? – Perguntou Vlad, mas sua voz não ecoou, apenas ouviu em sua mente.

- Você não quer o poder? Não deseja... – A voz vagava por sua mente como um sussurro nefasto.

Emergindo da escuridão, Vlad fitou três criaturas aproximando-se lentamente. Seus olhos eram rubros e pareciam lobos negros.

- Não deseja ser um... Não morto?
Vlad sentiu-se instigado, atraído pelo poder.

- Onde ele está? Onde esse desgraçado se enfiou?

Vlad acordou ouvindo os latidos de longe. Mesmo sonolento, já sabia o que havia acontecido.
Eles me encontraram... Eles me encontraram...

- Os cachorros perderam o sinal dele aqui Senhor...

Ouviu a voz grossa e rapidamente percebeu também que por enquanto, eles ainda não tinham prestado atenção na cachoeira.

- Essa não era a blusa dele? – Gritou outro homem pela margem.
BURRO IDIOTA!

Pensou o garoto enquanto sentia vontade de arrancar os próprios olhos. Como eu fui tão estúpido... Tão burro..

Vlad concentrou-se e pensou. Como iria sair dali? Mesmo de dentro da caverna era fácil notar que o dia já havia nascido. Provavelmente eram quase seis da manhã e eles deixaram para caçar o garoto de noite, quando ele estivesse dormindo. Graças a Deus eu dormir aqui.

Deus... Era a entidade que seu pai tanto falava e venerava. Um Deus superior a todos, divino e que milhares de homens travavam batalhas sangrentas em nome dele. De Deus..

Atento aos homens do lado de fora, engatinhou até o canto escuro da caverna, deixando também o livro. Os homens andaram de um lado para o outro. Talvez a água tivesse limpado seu corpo e atrapalhando os animais, pois eles pareciam latir sem direção definida.

Vlad sabia que em sua primeira tentativa de fuga, não poderia levar consigo o livro. Iria deixá-lo exatamente no mesmo lugar. Iria voltar depois para buscá-lo. Mas agora iria deixá-lo no mesmo lugar que o encontrará.

O silêncio voltou a reinar, Vlad esperou mais alguns minutos e decidiu ver se estava livre, estava salvo de seus algozes. Descobriu depois que fora seu maior erro.

Confiante. Deixou a caverna e nadou pela cachoeira até a margem. Sua blusa não estava mais lá. Com certeza não estaria. Até a minha blusa...Eles precisam de algo para mostrar à Mehmed...

Respirou fundo, aliviado e ouviu um barulho do mato. Seus olhos se arregalaram e seu coração disparou. Saindo da moita a alguns metros saíram três cachorros brancos e enormes. Os mesmos instintivamente mostraram seus caninos afiados e latiram. Atrás deles, meia dúzia de soldados e Vlad pensou: Não tenho tempo... Não posso falar...Apenas devo correr...


Sem pensar duas vezes virou as costas e correu, correu sem olhar para trás, sem verificar quem tinha ido ou não atrás dele. Correu por sua vida.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

Espólio Sangrento VI

Escolha  maldita 

A dúbia crescia em seu âmago a cada passo dado. O que eu faço? Pensou pequeno Vlad quando seu pé direito subiu no primeiro degrau. Um dos guardas mantinha-se a sua frente e o outro atrás do garoto. Estava, preocupado e pela primeira vez sentiu um gosto de medo crescer em seu interior. Não medo de morrer, não medo se ferir, mas partir e abandonar seu irmão. Ou leva-lo consigo para a fuga e fazer com que Radu morresse no caminho. Ele é mole, ele é fraco. Com certeza não vai conseguir fugir.

Vlad sentia-se seguro. Sabia que os guardas temiam a ele e talvez, nem seria necessário matar algum deles. A escadaria em formato de caracol era pequena e mal iluminada. Algumas tochas em uma altura segura para que algum escravo não a pegasse iluminavam o local, cingindo com uma sensação quente os poucos que ali caminhavam. Aquela sensação era refrescante e gostosa, fazia semanas que Vlad não tinha o calor do sol tocar sua pele pálida e naquele momento, viu como o calor e o fogo eram uma benção. Sorte deles, isto está alto demais, eu poderia queima-los vivos.

Se eu fugir agora, como será? Não estou decidido, mas preciso pensar, estou quase chegando à primeira porta. O local era tão pequeno que era impossível de duas pessoas andarem uma ao lado da outra, obrigando os três caminharem um atrás do outro. Vlad levou as mãos até os bolsos e tudo que encontrou fora a Lágrima da Morte e o pedaço de madeira. Vlad fixou os olhos enquanto subia as escadas no guarda a sua frente. O mesmo trajava uma armadura de prata deixando apenas seu pescoço, ombro e juntas do corpo vulneráveis.  Se eu atacar, tem que ser apenas um golpe. Seria impossível fazer aquela madeira atravessar a pele dele. Poderia usar a Lágrima da Morte, mas provavelmente iria perdê-la para sempre.  Se eu conseguir matar esse lixo da frente. E o segundo? Como vou me livrar dele? Deus.... O que eu faço?

Os olhos negros já podiam vislumbrar a primeira porta e foi quando sentiu seu coração bater ainda mais forte. O medo da indecisão ia aos poucos corroendo sua alma. As duas mãos seguraram com força os objetos em seus bolsos e ele suspirou. Passou pela primeira porta e pensou. Vou buscar esse molenga.. Se eu fugir não vou poder ir para casa sem meu irmão. Não vai adiantar nada. Agora, se eu fugir com meu irmão. Posso ajudar meu pai, ajudar Valáquia contra esses turcos nojentos.

Agora, mesmo se quisesse olhar para trás não iria conseguir olhar a porta. Ela estava distante e sentia-se um pouco triste por isso. Espero que valha a pena.Radu...Eu espero muito que valha a pena.

Após a primeira porta, Vlad e seus guardas já tinham feito quatro curvas na escadaria giratória quando olhou o final da mesma. A porta estava fechada e Vlad viu o soldado dianteiro parar, logo sentiu a mão pesada do outro guarda em seu ombro e entendeu o recado, parou e esperou. O guarda revestido de prata levou a mão direita até a cintura e tirou um molho de chave. É agora...Os olhos calculistas fixaram-se na chave, no meio daquelas dezenas de chaves, teria que gravar a imagem da chave que o levaria até a sua libertação. A chave da porta de baixo? Bem, para isso ele contaria com a sorte.

O soldado pegou a chave e em seguida levou a mão para a maçaneta, abrindo a porta e no mesmo instante o guarda de trás deu um leve empurrão em suas costas. Vlad seguiu o passo e começou a caminhar, agora estava diante de um enorme salão, atravessou a porta e pode enxergar seu irmão q quase vinte metros de distância. O local era uma espécie de altar, poucos metros dele havia dezenas de cadeiras de marfim, atrás de Radu um enorme altar. O chão era de uma madeira lisa e o teto era coberto por vários símbolos cristão.

Pequeno Vlad olhou para trás e viu quando um dos soldados fez um gestão com a mão, querendo dizer ‘’vamos, ande até seu irmão, é por isso que está aqui ‘’.

Vlad caminhou em direção de Radu e quando se aproximou mais sentiu um doce aroma vindo do irmão mais novo.

- Vlad...Irmão como você está? – Perguntou o mais novo um pouco assustado por ver o irmão mais velho naquele estão.

- Estou bem! – Respondeu de forma ríspida e seca. – Já você vejo que está MUITO BEM, que cheiro de mulherzinha é esse?

- É um perfume do Sultão.. – Radu sentiu-se envergonhado de responder aquilo. Pensou em dizer o que estava acontecendo, mas tinha dúvida se ele mataria ele mesmo ou o Sultão. – Seus cabelos...Estão todos sujos..E você... você fede irmão, como consegue falar que está bem?
- Temos princípios diferentes meu irmão. Cada vez mais eu percebo isso.. – Vlad lançou um olhar inquisidor e murmurou. – Vejo que o Sultão está cuidando muito bem de você, irmão.

Naquele momento Radu sentiu um arrepio tomar seu corpo. Falo ou não falo? Falo ou não falo? Mas antes do mais novo chegar a uma conclusão, Vlad continuou.

- Eu tenho um plano! – Sussurrou se aproximando do irmão. – Nós podemos fugir daqui!

Radu fitou seu irmão incrédulo. Como ele consegue pensar em algo assim?

- Vlad..Não podemos fugir daqui..

- Podemos Radu, podemos e vamos, agora. – Continuou o mais velho – No meio daquelas escadas reside a porta da nossa liberdade irmão. Podemos fugir dessa tirania e voltarmos para casa, para nosso Pai.

Radu abaixou o rosto olhando para o chão, mantendo um pouco de lado. Não tinha coragem de olhar nos olhos de seu irmão naquele momento. Não queria voltar para casa, na verdade, tinha se acostumado com aquele lugar.

- Voltarmos para casa? Mesmo se conseguirmos fugir daqui irmão, como vamos sobreviver, como vamos nos alimentar?

-Se você deixar de ser uma menina isso não será problema. Podemos comer qualquer coisa até chegar em casa. – Vlad fitava seu irmão atentamente, esperando sua resposta.

- Vlad, não consigo fazer isso. Não posso me arriscar. – Radu sentiu-se um verdadeiro covarde perante seu irmão, contudo não poderia arriscar perder sua comodidade, seus banquetes e banhos quentes por uma aventura que talvez terminaria na morte de ambos.

- NÃO PODE? – Pela primeira vez, Radu vislumbrou o olhar diabólico de seu irmão. – Eu me arrisquei a vir até aqui, te buscar. Eu poderia ter abandonado você...E você fala que não pode.

- Desculpe irmão...

Parecia que um monstro iria sair de dentro de Vlad e esmagar o pequeno Radu. Vlad sentiu a decepção tomar conta de si, sentiu-se arrependido, sentiu-se enojado. Não vou morrer aqui por causa de um frango como você. Não mesmo.
Vlad não respondeu mais, simplesmente fitou seu irmão e com um rápido movimento, bateu a palma da mão direita no peito do garoto, fazendo ele ajoelhar-se e ficar sem respirar.

- MEU IRMÃO..ELE TA MORRENDO, SOCORRO! – Gritou Vlad, fitando Radu com olhos frios, enquanto o mais novo o fitava assustado, com medo.

Os soldados correram em direção dos garotos e quando chegaram perto de Radu, se abaixaram para poder ajudar o garoto a se levantar e ver o que ele tinha. Vlad posicionou-se atrás deles e no meio de ambos. Orgulhoso do seu ato. Eu sou, o que tenho que ser, eu faço, o que tem que fazer.

Rapidamente levou as mãos nos bolsos; Na direita pegou a Lágrima da Morte e na esquerda o pedaço de madeira. Suas peles são fortes, mas não seus olhos.

Em um só movimento tirou os objetos dos bolsos e cravou nos olhos dos guardas, acertando os dois ao mesmo tempo. A sensação que sentiu quando os objetos cravaram-se nos orbes dos soldados fora de um prazer sem igual. Sentiu o sangue quente esguichar em seus dedos e aquilo era muito bom. Sentiu-se vivo, feliz depois de muito tempo.


Os soldados ajoelharam-se e gritaram de dor. Vlad não demorou muito e puxou o miolo de chave da cintura do soldado. Este tentou segurar seu braço, mas com a perna Vlad quebrou o braço do soldado. Sorriu novamente e correu em direção da porta, de sua liberdade.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Espólio Sangrento V

O5: Uma nova chance

Talvez, todos os outros escravos e prisioneiros estavam dormindo. Já que a única sombra que se movia diante o lugar pouco iluminado era uma silhueta pequena, nãos mais que um metro e trinta centímetros. O detentor da sombra movia-se suavemente, seus pés moviam-se iguais as patas de gatos e seus olhos escuros e pequenos observavam tudo ao seu redor atentamente. As mãos gélidas estavam ocupadas. Com certeza estavam. Estava a duas horas lutando para conseguir que suas mãos estivessem ocupadas agora. A mão direita segurava o rabo de uma grande ratazana e a esquerda a cabeça, cuidadosamente para não ser mordida. Vlad moveu-se ligeiramente, como se estivesse em uma dança real: Suave, delicado, firme e sem fazer barulho entre os escravos dormindo. Não se importou em certificar-se se o velho Iikin estava dormindo. Não iria fazer muita diferença, aquela brincadeira era dele. Apenas dele. Chegaram á alguns metros do velho que estava dormindo. E continuou caminhando até chegar ao fim do grande pátio sombrio. As paredes eram cinza e o canto dividido por duas paredes agora era pouco iluminado. Você é minha agora. Apenas eu e você! Ele pensou quando levantou a ratazana até a altura de seus olhos e viu o bicho se contorcendo em seus dedos. A pequena boca da criatura fecha-se e abria. Tentando morder algo. Você quer morder? Você não vai ter esse prazer me desculpe. Deixou a criatura pelos dedos que segurava a cabeça dela. A outra mão desceu pela sua cintura e vasculhou os bolsos da causa velha, procurando algo que lhe fosse útil. A lagrima da morte, não, não quero isso agora. Levou a mão até o outro bolso. Um galho fino, o que vou fazer com a merda de um galho fino. Puxou o galho e encostou cuidadosamente a criatura minúscula contra a parede. Pressionou a cabeça da criatura com força contra o concreto gélido e a ratazana soltou um grunhido baixo. O barulho que era de dor invadiu os tímpanos de Vlad, lhe proporcionando uma sensação prazerosa e confortante. Doeu? Que ótimo! Pensou e depois voltou a pressionar a cabeça do bicho de novo contra a parede. A ratazana ficou lá, se debatendo e sentindo a pressão contra suas pressas e grunhindo, grunhindo.  Vlad olhou a outra mão e a madeira fina. Essa tinha uns dez centímetros e um de espessura. O que vou fazer. Como vou torturar uma Ratazana deste tamanho (A coitada tinha quase o mesmo tamanho de madeira, porém era gorda, bem gorda).

Os olhos percorreram o corpo do pobre animal. Pegou a madeira e deu uma leve estocada nas costas do bicho que estava sendo pressionando contra a parede a mesma esguichou de dor, e novamente ele ouviu uma aconchegante melodia.

- Nunca tentou empalar essas criaturas, pequeno Vlad? – A voz silenciosa veio de trás de si. Vlad estava tão concentrando que levou um susto e virou-se com os pulsos fechados. Soltando a ratazana. A mesma caiu no chão com os pelas cinzas da barriga coberta por sangue. Poderia ter arriscado morde o pé de Vlad, mas talvez seus dentes já estivessem todos quebrados. Ela cambaleou e fugiu.  Haaa. Minha companhia fugiu por que me assustei com o desgraçado deste velho!

O velho Iikin estava parado atrás dele, sem expressão alguma. Caso conseguisse enxergar, iria ver a expressão frustrada no rosto de Vlad e talvez tremer de medo. Esse desgraçado não é cego?

Como andou até aqui? – Perguntou o pequeno Vlad, recompondo-se e aceitando a ideia de ter perdido a sua caça.

- Os homens respiram muito altos enquanto dormem e você faz muito barulho quando anda. Posso ter ficado cego, mas meus outros sentidos ficaram mais aguçados. Estranho não? – Os olhos do velho eram brancos e seu rosto enrugado e negro.
Esse desgraçado sabe algum tipo de feitiço? Conhece sobre a Lágrima da morte, pode conhecer algum feitiço. Pensou em perguntar, mas acabou perguntando outra coisa. – Que droga é essa? Empalar? – Perguntou o garoto enquanto começava a andar em direção do velho, quando ele passou por ele, cuidadosamente sem fazer barulho algum o velho se virou e respondeu.

- É uma espécie de tortura. Eu ouvi o barulho da madeira quando você a pegou. Parecia ser fina e inútil para aquela ratazana. Ela era grande não era? Seu grunhido me disse isso.
Que velho..

- Sim eu estava com uma madeira. – Continuou Vlad, ganhando uma expressão de surpresa em seu rosto. Não só pela descoberta da madeira, mas por ele ter se virado exatamente no momento que passou por ele. Minha respiração, com certeza.

- Use-a da próxima vez. Penetre a criatura pelo ânus e faça a madeira sair pela sua goela, talvez você goste. – Terminou o velho Iikin, caminhando de volta para seu lugar de descanso. Vlad notou que este sempre mantinha a mão esquerda encostada na parede e quando pensou que ele fosse pisar na cabeça de um escravo também velho e se contorcendo. Ele parou e deu um passo maior, caminhando sem problema nenhum para sua cama de panos velhos.
                                                        ~~

- Senhor. – Radu estava deitado na cama grande do Sultão enquanto o mesmo se olhava diante o espelho de prata, tendo em seus dedos um pequeno receptáculo de uma alguma fragrância exótica. O cheiro espalhava-se por todo o local. O sultão trajava uma túnica branca que se estendia até os pés.

- Diga garoto! – Respondeu o Sultão sem olhar para trás.

- As noites.. tenho sido um bom menino. Isso dói, mas às vezes é bom. Mas tenho sido um bom menino para que você possa... - O garoto hesitou, estava deitado sobre toalhas de cetins. Sentia-se desconfortado sentado, então permanecia deitado.

- Diga garoto! Não tenho muito tempo. Logo irei encontrar seu Pai. Precisamos atualizar algumas coisas. A Hungria tem ficado em silêncio há muito tempo. Isso não me agrada.
Meu pai. Vlad Tepes II. Pensou Radu, sentiu uma pontada de felicidade em seu coração ao se lembrar da família. Mas logo entristeceu ao lembrar também que fora exatamente seu pai que tinha dado ele e o irmão ao Sultão. Suspirou, segurando as lágrimas e voltou ao assunto principal.

- Meu irmão. Ele já está há muito tempo com aqueles escravos. Eu tenho medo. Tenho medo de que algo possa acontecer a ele. – O som de voz do garoto era baixo, quase um sussurro. Ele tinha medo do Sultão, muito medo e isso agradava o Rei dos Otomanos.

- Medo? Eu temo pela vida dos meus escravos. Aquele garoto não é igual a você! É pior que meus soldados menino. Ele está tendo uma alimentação todos os dias. Está bem tratado, nenhum dos escravos ousa chegar perto dele. Um dos meus soldados já avisou que se algo acontecer com aquele menino. A morte será um grande alivio para aquele que o machucar.
Radu sentiu-se um pouco mais aliviado. Mais por que Mehmed II dissera aquilo. Que ele era diferente? Realmente, seu irmão era estranho. Mas pior que os soldados do Sultão?

- E. Eu... Posso vê-lo? – Perguntou cautelosamente o garoto, com tanto medo que mal conseguiu falar.

- Não entendi garoto! – O sultão nunca o chamou pelo nome. Talvez nunca o lembrasse.

- Eu. Posso... Ver meu irmão? – Radu manteve os olhos para baixos e fechados. Já esperava ouvir um grito, um insulto, mas não foi aquilo que ouviu.

- Podemos resolver isso outra hora! – Respondeu o gordo Sultão.

~~

Dois dias e uma noite havia-se passado desde que o velho Iikin quase o matara de susto e tinha falado sobre ‘’Empalar’’. Vlad ficou muito curioso por esse tipo de tortura. Queria demasiadamente fazer aquilo, achou até um pouco excitante. Será que posso fazer com humanos? Quem sabe um dia. Talvez um dia se eu for Conde, Príncipe, Rei. Irei fazer isso com meus prisioneiros. Mas primeiro. Com certeza tenho que experimentar com alguma ratazana e fugir desse inferno. Preciso fugir daqui.  Vlad já estava há alguns meses naquele lugar, como prisioneiro. Os primeiros meses foram em um lugar um tanto que confortável. Mas agora.

Já tinha conversando com o velho Iikin sobre o assunto várias vezes. No começo o velho não queria saber sobre o assunto, sempre falava a mesma coisa. ‘’ Não quero falar sobre isso. Não quero ter uma parte na sua morte’’

Mas Vlad era abusado, sabia que o Sultão não o mataria, poderia torturá-lo, mas não o mataria. Depois de algum tempo, sempre insistindo. O velho começou a ouvir as ideias de Vlad e sempre achava um erro nelas. Aquilo irritava Vlad, mas ele sabia que o velho estava certo. Na noite anterior, quando voltou frustrado por não conseguir capturar nenhuma ratazana ou rato o velho o surpreendeu puxando assunto.

- Eu sei como você pode fugir. – Murmurou o cego, deitado para o lado ao contrário que Vlad estava. Vlad sentou-se, olhando para todos os lados, certificando que todos os homens estavam deitados e dormindo.

- Como? – Perguntou. Os cabelos do garoto já tinham passado dos ombros e estavam sujos e com um mau cheiro.

- Quando te levarem para fora daqui. Irá subir uma escada subterrânea. Essa escada vai 
passar por dois andares. O primeiro é uma porta que leva a um corredor. Esse corredor leva para além dos muros do castelo. O segundo andar é o térreo do castelo. Consiga atravessar a porta do primeiro andar sozinho que estará livre.

Vlad demorou a dormir naquela noite. Pensou e repensou como iria conseguir fugir. Quando fosse levado daquele lugar, com certeza estaria escoltado com alguns soldados. Mas não demorou muito para sua mente maquiavélica pensar em algo. Adormeceu segurando o pedaço de madeira fina, o protegendo de qualquer um que pudesse quebrá-lo.

Vlad sabia quando era dia e noite não só pelo seu relógio biológico, mas por causa dos horários que os soldados traziam o seu alimento. Os outros escravos gritavam pragas e ofensas enquanto o garoto dividia a comida com o velho Iikin, mas nenhum ousava a roubar a comida do garoto.

 O barulho da grande porta de aço se abrindo no outro lado do pátio chamou a atenção de todos. A porta rangia e o barulho ecoava por todo o lugar. Dois soldados trajados de armaduras de prata e espada na mão e punhais na cintura adentraram o local.           

   Vlad fitou com atenção os homens e percebeu que nenhum trazia comida. Por Deus, estou com fome... Pensou e o mais alto dos soldados berrou.

- Vlad Tepes III – Gritou o homem!
Todos os escravos olharam para a mesma direção. Vlad hesitou em se levantar e o velho Iikin sussurrou.

- Talvez seja essa sua chance, pequeno Vlad. A primeira porta. A primeira porta.
Vlad olhou para o velho e colocou as mãos nos bolsos. Em um estava a Lágrima da Morte e em outro o pedaço de madeira. Deixou um sorriso pequeno no rosto e se levantou. Caminhando em direção dos soldados. Os escravos o fitavam com ódio nos olhos. Claro que me odeiam. Tenho mais privilegio que eles..

Parou diante os soldados. Mantendo uma expressão fria, sem nenhum tipo de sentimento. O maior colocou a mão no ombro dele, ficando atrás enquanto o menor ficava na frente.

- Vamos escoltá-lo até seu irmão, Radu.
Vlad sentiu seu coração apertar. Tinha se esquecido do seu irmão. Como poderia? Não sabia explicar, mas tinha se esquecido. Seu coração se apertou ainda mais quando colocou os pés no primeiro degrau da escada. O corredor era apertado. Apenas uma pessoa poderia passar por vez. Deixando Vlad no meio deles. Agora, teria que fazer sua escolha. Fugir, ou ver seu irmão.