Escolha maldita
A dúbia crescia em seu âmago a cada passo
dado. O que eu faço? Pensou pequeno
Vlad quando seu pé direito subiu no primeiro degrau. Um dos guardas mantinha-se
a sua frente e o outro atrás do garoto. Estava, preocupado e pela primeira vez
sentiu um gosto de medo crescer em seu interior. Não medo de morrer, não medo
se ferir, mas partir e abandonar seu irmão. Ou leva-lo consigo para a fuga e
fazer com que Radu morresse no caminho. Ele
é mole, ele é fraco. Com certeza não vai conseguir fugir.
Vlad sentia-se seguro. Sabia que os guardas
temiam a ele e talvez, nem seria necessário matar algum deles. A escadaria em
formato de caracol era pequena e mal iluminada. Algumas tochas em uma altura
segura para que algum escravo não a pegasse iluminavam o local, cingindo com
uma sensação quente os poucos que ali caminhavam. Aquela sensação era
refrescante e gostosa, fazia semanas que Vlad não tinha o calor do sol tocar
sua pele pálida e naquele momento, viu como o calor e o fogo eram uma benção. Sorte deles, isto está alto demais, eu
poderia queima-los vivos.
Se eu
fugir agora, como será? Não estou decidido, mas preciso pensar, estou quase
chegando à primeira porta. O local era tão pequeno que era impossível de duas
pessoas andarem uma ao lado da outra, obrigando os três caminharem um atrás do
outro. Vlad levou as mãos até os bolsos e tudo que encontrou fora a Lágrima da
Morte e o pedaço de madeira. Vlad fixou os olhos enquanto subia as escadas no
guarda a sua frente. O mesmo trajava uma armadura de prata deixando apenas seu
pescoço, ombro e juntas do corpo vulneráveis. Se eu atacar, tem que ser apenas
um golpe. Seria impossível fazer aquela madeira atravessar a pele dele.
Poderia usar a Lágrima da Morte, mas provavelmente iria perdê-la para sempre. Se eu
conseguir matar esse lixo da frente. E o segundo? Como vou me livrar dele?
Deus.... O que eu faço?
Os olhos negros já podiam vislumbrar a
primeira porta e foi quando sentiu seu coração bater ainda mais forte. O medo
da indecisão ia aos poucos corroendo sua alma. As duas mãos seguraram com força
os objetos em seus bolsos e ele suspirou. Passou pela primeira porta e pensou. Vou buscar esse molenga.. Se eu fugir não
vou poder ir para casa sem meu irmão. Não vai adiantar nada. Agora, se eu fugir
com meu irmão. Posso ajudar meu pai, ajudar Valáquia contra esses turcos
nojentos.
Agora, mesmo se quisesse olhar para trás não iria
conseguir olhar a porta. Ela estava distante e sentia-se um pouco triste por
isso. Espero que valha a pena.Radu...Eu
espero muito que valha a pena.
Após a primeira porta, Vlad e seus guardas já
tinham feito quatro curvas na escadaria giratória quando olhou o final da
mesma. A porta estava fechada e Vlad viu o soldado dianteiro parar, logo sentiu
a mão pesada do outro guarda em seu ombro e entendeu o recado, parou e esperou.
O guarda revestido de prata levou a mão direita até a cintura e tirou um molho
de chave. É agora...Os olhos
calculistas fixaram-se na chave, no meio daquelas dezenas de chaves, teria que
gravar a imagem da chave que o levaria até a sua libertação. A chave da porta
de baixo? Bem, para isso ele contaria com a sorte.
O soldado pegou a chave e em seguida levou a
mão para a maçaneta, abrindo a porta e no mesmo instante o guarda de trás deu
um leve empurrão em suas costas. Vlad seguiu o passo e começou a caminhar,
agora estava diante de um enorme salão, atravessou a porta e pode enxergar seu
irmão q quase vinte metros de distância. O local era uma espécie de altar,
poucos metros dele havia dezenas de cadeiras de marfim, atrás de Radu um enorme
altar. O chão era de uma madeira lisa e o teto era coberto por vários símbolos cristão.
Pequeno Vlad olhou para trás e viu quando um
dos soldados fez um gestão com a mão, querendo dizer ‘’vamos, ande até seu
irmão, é por isso que está aqui ‘’.
Vlad caminhou em direção de Radu e quando se
aproximou mais sentiu um doce aroma vindo do irmão mais novo.
- Vlad...Irmão como você está? – Perguntou o
mais novo um pouco assustado por ver o irmão mais velho naquele estão.
- Estou bem! – Respondeu de forma ríspida e
seca. – Já você vejo que está MUITO BEM, que cheiro de mulherzinha é esse?
- É um perfume do Sultão.. – Radu sentiu-se
envergonhado de responder aquilo. Pensou em dizer o que estava acontecendo, mas
tinha dúvida se ele mataria ele mesmo ou o Sultão. – Seus cabelos...Estão todos
sujos..E você... você fede irmão, como consegue falar que está bem?
- Temos princípios diferentes meu irmão. Cada
vez mais eu percebo isso.. – Vlad lançou um olhar inquisidor e murmurou. – Vejo
que o Sultão está cuidando muito bem de você, irmão.
Naquele momento Radu sentiu um arrepio tomar
seu corpo. Falo ou não falo? Falo ou não
falo? Mas antes do mais novo chegar a uma conclusão, Vlad continuou.
- Eu tenho um plano! – Sussurrou se
aproximando do irmão. – Nós podemos fugir daqui!
Radu fitou seu irmão incrédulo. Como ele consegue pensar em algo assim?
- Vlad..Não podemos fugir daqui..
- Podemos Radu, podemos e vamos, agora. –
Continuou o mais velho – No meio daquelas escadas reside a porta da nossa
liberdade irmão. Podemos fugir dessa tirania e voltarmos para casa, para nosso
Pai.
Radu abaixou o rosto olhando para o chão,
mantendo um pouco de lado. Não tinha coragem de olhar nos olhos de seu irmão
naquele momento. Não queria voltar para casa, na verdade, tinha se acostumado
com aquele lugar.
- Voltarmos para casa? Mesmo se conseguirmos
fugir daqui irmão, como vamos sobreviver, como vamos nos alimentar?
-Se você deixar de ser uma menina isso não será
problema. Podemos comer qualquer coisa até chegar em casa. – Vlad fitava seu
irmão atentamente, esperando sua resposta.
- Vlad, não consigo fazer isso. Não posso me
arriscar. – Radu sentiu-se um verdadeiro covarde perante seu irmão, contudo não
poderia arriscar perder sua comodidade, seus banquetes e banhos quentes por uma
aventura que talvez terminaria na morte de ambos.
- NÃO PODE? – Pela primeira vez, Radu
vislumbrou o olhar diabólico de seu irmão. – Eu me arrisquei a vir até aqui, te
buscar. Eu poderia ter abandonado você...E você fala que não pode.
- Desculpe irmão...
Parecia que um monstro iria sair de dentro de
Vlad e esmagar o pequeno Radu. Vlad sentiu a decepção tomar conta de si,
sentiu-se arrependido, sentiu-se enojado. Não
vou morrer aqui por causa de um frango como você. Não mesmo.
Vlad não respondeu mais, simplesmente fitou
seu irmão e com um rápido movimento, bateu a palma da mão direita no peito do garoto,
fazendo ele ajoelhar-se e ficar sem respirar.
- MEU IRMÃO..ELE TA MORRENDO, SOCORRO! –
Gritou Vlad, fitando Radu com olhos frios, enquanto o mais novo o fitava
assustado, com medo.
Os soldados correram em direção dos garotos e
quando chegaram perto de Radu, se abaixaram para poder ajudar o garoto a se
levantar e ver o que ele tinha. Vlad posicionou-se atrás deles e no meio de
ambos. Orgulhoso do seu ato. Eu sou, o
que tenho que ser, eu faço, o que tem que fazer.
Rapidamente levou as mãos nos bolsos; Na
direita pegou a Lágrima da Morte e na esquerda o pedaço de madeira. Suas peles são fortes, mas não seus olhos.
Em um só movimento tirou os objetos dos
bolsos e cravou nos olhos dos guardas, acertando os dois ao mesmo tempo. A
sensação que sentiu quando os objetos cravaram-se nos orbes dos soldados fora
de um prazer sem igual. Sentiu o sangue quente esguichar em seus dedos e aquilo
era muito bom. Sentiu-se vivo, feliz depois de muito tempo.
Os soldados ajoelharam-se e gritaram de dor.
Vlad não demorou muito e puxou o miolo de chave da cintura do soldado. Este
tentou segurar seu braço, mas com a perna Vlad quebrou o braço do soldado.
Sorriu novamente e correu em direção da porta, de sua liberdade.
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